A “máscara” é um fingir ser

 Mensagem de 5 setembro 2014

Pergunta: Amado Prem Baba, gostaria de pedir uma direção sobre como trabalhar com a separação dentro de mim. Entendo que somos todos Um, mas não o sinto. Você pode me ajudar a trilhar este caminho?

Prem Baba: Antes de falar diretamente sobre este assunto, eu quero partilhar com vocês, dois presentes que recebi essa semana. Um deles é um caderno de poesias. Eu abri na poesia número sete e diz assim:

Sonhei que todos os espinhos do mundo seriam transformados em flores. Após sentirem-se saturados com os sofrimentos que causavam, sonhei que o veneno se transformava em líquido saudável assim que percebeu o tremendo mal que causava. Sonhei que os conflitos se acalmaram, que as doenças se afugentaram, que a loucura transmutara-se em uma divina euforia. Sonhei que havia (…) Sonhei com a imortal realidade (…) antevi o reino de Deus.”

Essa poesia foi canalizada por Ariston Teles que atribui à Ravindranath Tagore.

Eu achei isso tão bonito. Eu partilho desse sonho. Mas como realizá-lo? Como viver o reino de Deus na Terra?

Então, eu recebi outro presente, uma música:

Sou a maldade em crise, tendo que reconhecer as fraquezas de um lado que nem todo mundo vê; fiz em mim uma faxina e encontrei no meu umbigo o meu próprio inimigo que adoece na rotina. Eu quero me curar de mim; quero me curar de mim; quero me curar de mim. O ser humano é esquisito na armadilha de si mesmo; fala de amor bonito e aponta o erro alheio. Vim ao mundo em um só corpo, esse de um metro e sessenta. Devo a ele estar atenta para não sugar o outro. Eu quero me curar de mim; quero me curar de mim; quero me curar de mim. Vou pequena e pianinho, fazer minhas orações; eu me rendo da vaidade que destrói as relações; para me encher do que importa preciso me esvaziar; minhas feras encarar, me reconhecer hipócrita. Sou má, sou mentirosa, vaidosa e invejosa; sou mesquinha, grão da areia; boba e preconceituosa; sou carente amostrada, dou sorriso, sou corrupta, malandra fofoqueira, moralista, interesseira. Dói, dói, dói me expor assim; dói, dói, dói me despir-se assim. Mas se não tiver coragem de olhar os meus defeitos, de que jeito vou me curar de mim, se é que essa cura há de existir; não sei, só sei que a busco em mim. Só sei que busco me curar de mim.”

Prem Baba: Essa é a direção para viver o reino de Deus na Terra; (risos) para experienciar o estado de unidade.

Toda a entidade humana em evolução carrega partes dentro de si mesma com as quais não pôde chegar a um acordo. Partes que, de alguma maneira, ela se envergonha; não compreende, portanto, as mantêm trancadas em negação. Talvez a negação seja o principal mecanismo de defesa, e o principal obstáculo para a experiência da unidade.

Você pede que eu te dê uma direção para trabalhar a separação dentro de você. Essa separação dentro de você se manifesta também fora. Essa música pôde traduzir alguns dos pensamentos, sentimentos, geradores de separação.

Esses pensamentos ou sentimentos são oriundos da natureza inferior.

Eles ainda não são você, mas eles são mais você do que a máscara. Ao iniciar o processo de autotransformação, o que equivale a bater na porta do salão da verdade, as estruturas da máscara começam a se romper. A máscara é um fingir ser.

Com raras exceções, a grande maioria das pessoas usa a máscara sem saber que está usando. A máscara é desenvolvida em um determinado momento da evolução para proteger a entidade; como uma forma de continuar sobrevivendo.

Nota dos Trabalhadores da Luz: Eckhart Tolle, o famoso escritor espiritualista, descreve e explica exatamente o que está escrito acima por Prem Baba, em seu livro “o despertar de uma nova consciência”.

Tomemos o exemplo de uma criança que, como toda a criança, precisa de amor para sobreviver. Ela precisa de alimento; precisa sentir-se cuidada e protegida. E também precisa de um espaço para poder se expressar. Mas, vamos supor que essa criança vive em uma família na qual o amor é condicionado a seguir determinadas regras.

Porque uma coisa é estabelecer limites para a criança, outra coisa é você condicionar o amor a esses limites: “Eu te amo, te dou alimento, se você fizer do meu jeito”.

Então, vamos supor que o jeito dessa família, desse pai e dessa mãe, é rígido, fechado… Esses pais não gostam de muita brincadeira. Assim, a criança começa a se expressar e eles vão lá e a punem. A principal forma de punir é a retirada do amor. Mas a criança não sobrevive sem, nem que seja uma pequena expressão do amor; nem que seja atenção. Ela vai tentar encontrar uma maneira de sobreviver. Ela vai tentar encontrar uma maneira de receber o que precisa para se manter viva.

Neste exemplo, ela começa a ceder à chantagem. Lá fora, com os amiguinhos, ela é de um jeito, dentro de casa, para receber o que precisa, ela faz de outro jeito.

Ela usa uma máscara, um personagem – não é ela.

Ela precisa de amor, alimento, proteção… Então, ela começa a fingir ser o que estão esperando que ela seja. Isso vai acontecendo repetidas vezes até que chega um momento que ocorre uma cisão com a essência, e ela esquece quem ela é; ela incorpora a máscara.

Nós só sabemos que existe uma máscara por conta dos sintomas: ansiedade, depressão, angústia contínua, vergonha… Somente para citar os mais visíveis. As compulsões e vícios também são fáceis de identificar. Elas representam uma forma de substituir o que ela está precisando.

Em algum momento, quando a entidade humana começa a bater na porta da verdade, as estruturas da máscara começam a se romper. Esse não é um processo fácil de experienciar, porque tudo que ela conhece está atrelado à máscara, então ela pode viver uma profunda crise por conta da falta de referências. Mas, quando a máscara começa a ser quebrada, ela começa a entrar em contato com aspectos da natureza inferior.

A grande maioria da humanidade é educada a negar a sombra.

A grande maioria das religiões e a própria cultura evoca o bem primordial, mas não ensina o que fazer com a sombra. Porém, para poder chegar à experiência da união, se faz necessário integrar essas partes.

Só é possível viver o reino de Deus na Terra através da união, e união inclui tudo.

Uma forma de iniciar esse processo é tomando consciência daquilo em você que te envergonha.

Na música, a compositora fala da dor que é ter que admitir essa sombra.

Talvez um dos principais obstáculos para a experiência da unidade seja o orgulho.

Há que se ter um tanto de humildade para aceitar o seu pequeno eu. Porque é somente quando se aceita o seu pequeno eu que você está pronto para aceitar o seu Eu maior. Enquanto nega o pequeno eu, você está criando um obstáculo para acessar o Eu maior.

Se você pode sentir raiva e admiti-la, você pode sentir amor. O canal do sentir é o mesmo.

Se for difícil identificar as partes das quais você se envergonha, olhe para a sua vida. Porque essas partes estão sendo constantemente projetadas nos seus relacionamentos. Constantemente você está reproduzindo esse estado interno através das suas relações. Os conflitos e dificuldades que se repetem são indicadores das partes em você que estão negadas. Quando essas partes vêm para a consciência você tem a chance de compreendê-las, e a partir da compreensão tem a chance de integrá-las.

O primeiro passo é a identificação, porque você só pode elaborar e integrar aquilo que identificou.

O que é em você que te separa do outro?

O que em você te faz sentir um “eu separado”?

Essa investigação é fundamental. Eu tenho dito que isso pertence à esfera do autoconhecimento, que é um dos aspectos fundamentais do caminho, que deve andar paralelamente à prática espiritual (sadhana).

Aos poucos nos abrimos para nos harmonizarmos com essas partes, mas este é o início:

querer ver as partes em você que ainda estão causando vergonha. Essa é a pista para você chegar a essas partes. Então, integrando essas partes, vamos abrindo espaço para viver o mundo de Deus na Terra.

Pergunta: Então surgem outras questões, por exemplo: Como explicar a uma criança que não precisamos chorar quando alguém morre?

Prem Baba: Essa é uma boa pergunta que orbita dentro da esfera de uma nova consciência na área da educação. Tenho dedicado bastante energia para essa área, compreendendo que ela é um dos pilares que sustenta essa nova consciência.

Um dos aspectos da educação é a transmissão dos valores e conhecimento do espírito.

Por exemplo, é importante que desde cedo a criança aprenda sobre a impermanência. É importante que ela possa compreender que permanente é somente aquele que habita o corpo. O corpo tem um prazo determinado de validade, pois é inerente a esse plano o envelhecimento e a morte; e na grande maioria dos casos, a doença. Doença, envelhecimento e morte são inerentes à matéria.

Nota dos Trabalhadores da Luz: Quando Prem baba diz “O corpo tem um prazo determinado de validade “, é certo que diz no caso que o ser humano não encontrou a fusão, ou seja, a união entre o Eu Superior, alma, eu inferior e corpo físico, pois segundo Saint Germain, é sim possível viver com um corpo humano muito além do que se imagina, mediante à fusão, como assim Ele mesmo diz que fez.

Mas, nós não somos a matéria. A matéria é somente o nosso veículo. Quando estamos perfeitamente identificados com o espírito Divino que habita a matéria, podemos até exercer influência sobre ela, compreendendo que ela é feita de terra, fogo, água, ar e éter, e que esses elementos podem ser manipulados pelo espírito. Então, é possível curar determinadas doenças; é possível até mesmo (para um Ser completamente iluminado se assim a lei divina permitir) deixar um corpo e entrar em outro.

Essa é a história de Girinari Baba, um dos santos da nossa linhagem espiritual. Ele era o mestre de Sachcha Baba, meu paramguru. Eu não vivi com ele diretamente, mas ouvi diversas histórias. Uma delas é essa:

seu corpo estava bem velhinho e ele não tinha terminado ainda sua missão; ele estava na beira do rio Ganges em Varanasi, então ele viu o corpo de um homem jovem morto flutuando no rio. Ele largou seu corpo e entrou naquele corpo. Ele viu inclusive que o corpo não estava completamente morto, mas estava envenenado por veneno de cobra. Ele expulsou o veneno e ficou com o corpo. Ele viu que aquele corpo era de um mestre sufi que vivia em uma vila de Varanasi. Ele foi até a vila e ninguém o reconheceu, então ele manteve aquele corpo. Esse é o corpo para o qual nós prestamos reverência.

Eu não tive a chance de viver diretamente com ele, mas vivi diretamente com meu guru, e eu vi coisas que, como se diz, até Deus duvida. (risos)

Eu vi milagres; vi acontecimentos que desafiam as leis da matéria; coisas que a mente não explica.

Porque o espírito é soberano sobre a matéria.

Esse grau de identificação com o espírito permite a manipulação sobre a matéria.

Estamos trabalhando para responder a grande pergunta:

Quem sou eu? Quem habita esse corpo? Mesmo que essa resposta ainda não esteja perfeitamente absorvida, nós podemos já ter notícias da verdade, e essas notícias já podem ser transmitidas para as nossas crianças.

O que termina é o corpo físico. A personalidade também é um produto do tempo – ela nasce com o tempo e morre com o tempo. Mas, o espírito é eterno; ele continua.

A despedida do corpo e da personalidade pode ser dolorida, mas não necessariamente. A despedida pode ser feita de uma forma tranquila e serena, porque essa despedida está sendo compreendida. Isso é possível quando enxergamos além do corpo.

Eu sinto que devemos usar a nossa inteligência, a nossa capacidade criativa, para poder ensinar para as nossas crianças que existe algo que nunca morre.

Isso não é tão simples, porque quando ela chega, a sua pulsão de vida está no auge, e obviamente o apego também. Então ela sofre só de pensar em ter que deixar o corpo, ou de que alguém ligado a ela deixe o corpo. Mas, isso ainda é um estágio de evolução da consciência influenciado pelo velho paradigma.

Nós estamos em uma transição.

Logo mais eu sinto que teremos condições de poder entender esse assunto de uma forma diferente.

Conforme você, que é o adulto, acorda para essa verdade, inevitavelmente as crianças que estão ao seu redor são influenciadas por ela. Porque a criança aprende através do exemplo. Mesmo que ela não compreenda num primeiro momento, conforme ela vai experimentando a verdade através da convivência, ela começa também a iluminar essa verdade dentro dela.

Porque a alma da criança já sabe tudo isso.

Todo esse conhecimento que estamos aqui resgatando, é um conhecimento universal; é um conhecimento que pertence ao espírito universal. Tanto que você nem se surpreende quando me ouve. O que você faz é: “Ah, verdade!

Porque você se lembra, pois já sabe que é assim. No nível da alma você já sabe.

Então, a questão é redirecionar os vetores da educação, que hoje está focada na matéria; na guerra.

 A educação de hoje está ensinando a criança a ganhar dinheiro através da competição. Ela ensina que ela ganha dinheiro disputando. Ela ensina as crianças a vencer e ser as melhores, mas não ensina a ser feliz. 

Felicidade é quando ela se lembra da sua natureza espiritual.

Tudo isso é para ilustrar um pouco mais o assunto, mas trazendo para o simples, você pode simplesmente dizer:

“Eu não choro porque estou tranquila, porque entendo que o espírito está vivo”.

Eu tenho uma filha de onze anos, e uma questão que tem perturbado ela ultimamente, é porque eu não choro.

Ela diz: “Eu nunca vejo você chorar. Por que você não chora?”.

Eu digo: “Isso porque você não tem ido aos satsangs”. (risos) Porque nos satsangs eu choro de alegria e êxtase. Mas, realmente não tenho chorado por tristeza ou sofrimento.

Porque tudo passa.

O que não está bom hoje, está bom amanhã, e vice-versa. Tudo passa. E o que é passageiro não merece nossas lágrimas. É só um sonho.

Mas, não use essa palavra ‘sonho’, pois a criança pode ficar confusa. Vá devagar com ela.

Mas, você pode ensinar sobre a impermanência. Aquilo que é transitório não merece nossas lágrimas, mas eu reconheço que às vezes você precisa chorar. Tudo tem seu tempo.

Uma pessoa ruim se torna boa amanhã, e vice-versa. Não é assim? Você se preocupa com isso? Você se preocupa se hoje tem sol ou se está chovendo?

Eu me lembro de uma pessoa que chegou para o Maharajji (meu guru) contando a história de outra pessoa que estava com raiva e inveja dela; um grande drama estava acontecendo. Então Maharajji disse: “Isso é somente um sonho”.

Qual é o sonho( nota dos Trabalhadores da Luz: ilusão) pelo qual você tem chorado?

Alguns podem dizer assim: “Se é sonho não sei, só sei que está doendo”. (risos) Nesse caso, é preciso mergulhar no processo de autoconhecimento para poder tomar consciência dessas partes negadas que estão sustentando o sonho, e fazendo com que ele pareça real.

Se você tem um vislumbre daquilo que nunca morre, a morte não te pega mais.

Então você compreende que a morte é um mito que aprisiona a mente.

Você somente se livra da morte quando tem um vislumbre do Eterno.

Mas, isso não pode ser transmitido através de palavras. Eu estou aqui tentando te dar isso; uma hora o ego cochila e isso acontece.

Um dos lugares que mais gosto de meditar é no campo de cremação. Eu faço isso quando vou para Varanasi (Índia). Isso é uma loucura divina.

Abençoado seja cada um de vocês. Que o amor e a sabedoria ilumine cada passo da sua jornada.

Até o nosso próximo encontro.

NAMASTÊ

http://www.sriprembaba.org/