A mente está condicionada a enxergar tudo a partir do véu da dualidade

 Mensagem de 27 de dezembro 2011  – Prem baba

Pergunta: Querido Prem Baba, seria possível estarmos vivendo em um período, onde o ativismo é mais importante que a espiritualidade? Não tenho dúvidas da importância da espiritualidade, mas por conta da densidade da situação, penso que um comprometimento com a ecologia, um equilíbrio entre os ricos e pobres, os verdadeiros direitos civis, as corporações sendo favorecidas pelos governos, etc. O genocídio é tão banal para as pessoas que estão no poder, envenenando nosso ar, água, alimento, remédios. Eles só querem dominar, e sugam toda a nossa energia. Esse ‘não fazer nada’ a respeito parece não encaixar.  A Ganga é sagrada, mas estamos matando-a. Até parece que o ahimsa (não-violência) não dá certo, quando tentamos proteger a nossa vida. Eu tenho certeza que você, Guru ji, deve estar no caminho espiritual, mas quanto a mim não tenho certeza.

Prem Baba: A separação é somente uma ilusão. A mente está condicionada a enxergar tudo a partir do véu da dualidade e essa é a raiz da enfermidade. Algumas coisas precisam ser melhor compreendidas. Esse ‘nada a fazer’ precisa ser melhor compreendido. Compreenda o que estou tentando lhe dizer. Quem em você está querendo fazer? Por quê? Para quê? Toda a reação é estúpida, porque vai gerar mais e mais reações. Quem em você está reagindo? A ação nasce do coração. É o amor em movimento. É um raio de construção.

Nós estamos trabalhando em muitos segmentos. Na educação, na política, em muitas organizações, com muitos projetos sociais. Eu apoio toda e qualquer inspiração, que sinto que esteja brotando da plenitude do seu coração. Mas, se é uma reação que vem do seu medo, do seu ódio, ou da sua revolta, eu não apoio. Porque eu sei que essa reação vai somente criar mais destrutividade.

Precisamos sim, tomar algumas atitudes. Elas são fundamentais. Mas, essas atitudes precisam vir da sua consciência amorosa. Elas devem vir de um lugar mais profundo dentro de você, e não da sua mente que está afetada e incomodada com o jogo. Você não pode transformar o outro, somente a si mesmo. Você pode criar condições para que o outro se transforme. Mas, você só pode ajudar de fato, quando houver amor em sua intenção. Se a sua atitude vem do coração, ela é plena de sabedoria e compaixão. Se a sua atitude é uma reação vinda do seu medo, do seu ódio, ela é estúpida e somente vai gerar mais medo e destruição.

E como você age a partir desse núcleo de sabedoria e compaixão? Quando você está presente; quando está identificado com o seu Eu divino. Agir a partir do seu ‘eu’ separado, do seu ‘eu’ inferior, é uma forma de reeditar as feridas que você carrega no seu sistema. Às vezes, tem a aparência maravilhosa de caridade e do mais perfeito altruísmo, mas de fato não está ajudando a você nem ao outro.

O que é certo ou errado, é tão relativo… Só uma pessoa espiritual pode agir a partir do coração. Eu digo espiritual, no sentido mais profundo do significado dessa palavra. Existe ainda muita distorção a respeito do significado da espiritualidade. A mente interpreta o que está acontecendo aqui, de acordo com os condicionamentos. Então, você não entra no fenômeno que está acontecendo aqui. A mente enxerga um grupo de pessoas reunidas falando sobre Deus, sobre o amor, como uma religião.

A religião é sempre interpretada como uma seita, porque o que compreendemos no nível mental é aquilo que aprendemos que é a religião, como um fenômeno social. É isso que eu chamo de religião horizontal: um fenômeno criado pela mente para atender uma necessidade social. Mas, existe uma religião vertical que é sinônimo de yoga. Religião vem do latim religare, que significa a conexão da alma individual com o absoluto. A espiritualidade é a experiência da unidade. Não há separação. É você unido ao todo. Você e Deus são uma coisa só. É essa a ação que eu chamo de amor em movimento.

Então, se você se move de qualquer outro lugar que não seja esse, com a intenção de criar um mundo melhor, você vai se tornar um político, que não é diferente de um sacerdote que tenta impor a verdade para os demais. Está sempre tentando pegar as coisas na marra; tentando transformar o mundo a partir da sua visão particular. Isso é perigoso, porque só vai gerar mais e mais reações.

Eu vou dizer para você, que estamos trabalhando de uma forma bastante pragmática em muitos setores. Mas, quem em você quer fazer? Por quê? Para quê?

É verdade que o planeta está em crise. Nós estamos no pico do parivartan, a grande transformação planetária. Nas palavras de Sachcha Baba é como se a Mãe Divina estivesse parindo a verdade. E isso não é possível sem um grande balanço.

A cada dia, estamos tomando mais consciência do resultado dessas reações ao longo dos anos. O coeficiente de luz está aumentando e, por isso estamos tendo condições de enxergar a sujeira. Se o quarto está fechado, com as portas e janelas trancadas, e a luz apagada, você não pode enxergar a sujeira dentro dele. Mas, se é dia, você abre a janela, abre a porta e a luz entra: você vê a sujeira. Às vezes, você se desespera com tanta sujeira, e acha que não vai dar conta de limpar. Daí essa crise tão profunda; tanta gente querendo se matar; tantas doenças surgindo abruptamente.

Essa consciência do desastre que criamos no nosso planeta; nos recursos naturais, na economia, e em todos os setores sociais, levam-nos a entender que todos os movimentos nasceram do medo da escassez e do egoísmo. Esse é um estágio da evolução da consciência humana. Não vai adiantar você brigar com o processo da evolução. O que você pode fazer é colocar os seus talentos e dons a serviço. Isso você pode fazer. Não importa qual seja o seu dom ou talento. Você pode ser uma pessoa espiritual, trabalhando na política. Você pode ser uma pessoa espiritual trabalhando numa organização. E são essas pessoas espirituais trabalhando nesses lugares, que estão possibilitando realizar transformações.

Está acontecendo um fenômeno muito singular no planeta nesse momento. Eu me lembro de um ditado da minha vovozinha: “A dor ensina a gemer”.  “Ai, ai, ai…” (risos) A dor ensina você a expressar os seus sentimentos. Eu tenho dito que, estamos trabalhando seriamente para transitar do sofrimento para a alegria. Mas, essa transição ainda não se completou. Nesse planeta, ainda se aprende através do sofrimento. Tem sido assim ao longo do tempo. A entidade tem que chegar ao ápice do sofrimento para aceitar. Aí a mente entra em pane e para… Ela quebra. Então, você tem uma visão da realidade além dela. O caminho do sofrimento é uma forma antiga de se evoluir… Mas ainda está vibrando.

O planeta está no ápice do sofrimento, mas isso está fazendo com que muitos abram os olhos. Nós estamos mesmo envenenando o planeta; saqueando os recursos naturais, da mesma forma como fazemos com o nosso corpo. Você joga lixo no Ganges, como joga lixo no seu corpo. Que diferença tem? O corpo é um só. Tudo é a mãe. O corpo é a mãe, o rio é a mãe, o planeta é a mãe. Você quer matar a velha?! (risos) Você está cheio de ódio dela. Você quer matá-la, cortá-la, fazer um bife, assar bem assado, mastigá-la e engolir. (risos) E depois passar muito tempo digerindo no seu intestino.

Esse ódio do feminino, em algum momento, precisa ser compreendido. Não há separação. Vai lá… Faz a campanha que for para salvar o rio, mas se não vier realmente de dentro, não tem efeito nenhum. Isso é um jogo, só um jogo. O que está acontecendo na superfície desse planeta é um jogo. E qual é a posição que você ocupa nesse jogo?

A única possibilidade de você de fato ajudar, é você se tornar espiritual. Essa é a única maneira. De forma que o seu Eu divino possa te inspirar a agir. E se você tem talentos para agir no mundo de uma forma proativa, que assim seja! Você tem as minhas bênçãos e o meu apoio. Inclusive, em nosso novo site, haverá uma plataforma para que as pessoas possam se ajudar mutuamente, através dos projetos que nascem do sangha.

Esse assunto é muito vasto. Nós poderíamos passar alguns dias falando sobre ele.

Eu compreendo o seu questionamento. Eu mesmo já questionei o poder do ahimsa (não-violência). Parece que só deu certo com o Gandhi, aqui na Índia. Mas, não é verdade. O ahimsa é o remédio que esse planeta precisa. Ontem eu disse que a compaixão é o remédio, e ahimsa é compaixão. Mas, esse conceito precisa ser melhor compreendido, porque a sua mente tem um entendimento sobre isso: que ahimsa é cruzar os braços e ficar esperando que as coisas aconteçam; amar, às vezes é dar um tapa na cara do outro também. Olha que perigo o que estou falando! “O Prem Baba falou que amar é bater na cara do outro!” (risos) Eu estou falando no sentido figurado…

Ahimsa, muitas vezes envolve ação, atitude. Mas, é uma ação que nasce do coração. É espontâneo, e sempre vem com sabedoria e compaixão. Não é o ódio ou o medo que está se manifestando. Você tem que ter o que dar para o outro. “Ah, eu tenho que ajudar, eu tenho que fazer alguma coisa…” Fazer o que meu amigo? O que você tem para dar? Encontre alguma coisa verdadeira, e então vá para o mundo. Mas, encontre alguma coisa verdadeira dentro de você. Até que você sinta o verdadeiro pulsando, não largue dos pés do seu guru, porque é a única referência de verdade que você tem. Se não, você vai estar somente desperdiçando o seu precioso tempo. Daqui a pouco você morre e acabou tudo…

Esse corpo é nada. O quanto ele dura? Com todos os esforços da ciência, dura apenas alguns instantes… Como aproveitar esse instante? Indo de encontro àquilo que é realmente importante; àquilo que é vital. Você teve um vislumbre da verdade, vá para lá. Esse vislumbre da verdade é como uma estrela cadente, já foi… Olha o Maharaj ji, já foi. Para quem estabeleceu conexão com ele, ele é eterno, mas para quem não estabeleceu… É um portal que se abre na eternidade, mas dura um instante.

O que é vital? Tornar-se espiritual; tornar-se o amor e a compaixão; transformar-se numa prece; transformar-se numa meditação. Então, tudo que você fizer será bom. As suas atitudes serão o amor em movimento. Eu chamo isso de serviço, de karma yoga. Você coloca seus talentos e dons a serviço do amor, sem nenhum interesse. Você não está tentando mudar o seu passado. Não é uma reação. Você não está fugindo de nada. Você age a partir da presença e isso serve para qualquer coisa.

Você quer se tornar rico para fugir da pobreza? Então, você pode criar um império, mas eu lhe afirmo que, em algum momento, quando menos esperar, o império vai cair, porque não tem lastro no coração. Você está tentando fugir do passado. Ele precisa cair, para você encarar a pobreza, e perder o medo da pobreza para ser verdadeiramente rico. O externo é um reflexo do interno. Lá fora está assim, porque dentro estamos assim. Se você une dentro, você está abrindo espaço para a união acontecer fora.

Fonte. http://www.sriprembaba.org/