Eliminando o sentimento de que algo está errado

Mensagem de 8 de Outubro de 2019

O problema mais comum que encontrei nas pessoas que treinei ou com as quais trabalhei em meus cursos é um problema fundamental: a maioria sente que há algo errado com elas, e isso é muito triste.

Na verdade, muitos dizem que seu problema é que desejam ser mais disciplinados, mais focados, melhores em aderir a hábitos saudáveis, melhores nas finanças, mais atentos, mais disso ou melhor naquilo.

Mas na base de tudo está o sentimento de que algo está errado conosco.

Não somos disciplinados o suficiente. Não somos focados o suficiente. Não estamos em forma. Não somos atentos o suficiente. Não somos organizados o suficiente. Não somos bons o suficiente. Não somos o suficiente. Nunca somos o suficiente.

Isso é triste porque nós tentamos muito, mas não conseguimos. Todos nossos esforços são incapazes de resolver nossas falhas fundamentais, aquelas partes que nunca serão boas o suficiente. Existem aspectos de nós que não queremos encarar, que não gostamos, que não queremos que ninguém veja. E nós os escondemos, os cobrimos com atividades que mostram o quão importante somos. Talvez se mostrarmos o quão incríveis somos, ninguém perceberá as nossas mazelas.

O mais triste é que nada pode estar mais longe da verdade. Nada está errado conosco. Nós somos completos, de bom coração, somos belos e cheios de amor.

Neste artigo, vou mostrar algumas maneiras de trabalhar com essa desoladora ilusão.

De onde vem este sentimento

Este sentimento é formado em alguma época da infância ou adolescência – antes disso nos achávamos incríveis e nos sentíamos completos.

Mas, em algum momento, recebemos a mensagem de que deveríamos ser mais. Deveríamos trabalhar mais, ter mais disciplina, ser mais bonitos, ser melhores.

Isso veio de nossos pais, parentes, escola, colegas, mídia, igreja. Todos nos passaram esta mensagem porque todo mundo comprou essa idéia de que deveríamos ser melhores, mais produtivos, mais de tudo.

Está enraizado na religião, no consumismo, no cerne da nossa sociedade.

É uma mensagem falha, mas está em todos os lugares. Nós a percebemos quando entramos nas redes sociais e vemos como os outros estão sendo ou fazendo coisas melhores que nós. Isso nos faz sentir piores e reforça a crença em nossas falhas.

Mas na verdade, não somos falhos

Não há nada errado conosco. Não somos “perfeitos”, mas toda ideia de perfeição é baseada em algum ideal, algum conjunto de expectativas que foram criadas e que só servem para nos fazer sentir menos que algo.

Não somos perfeitos, mas não somos falhos. Somos bons em nossa essência. Somos a encarnação do Amor. Somos completos com o universo, se apenas pudéssemos vê-lo.

Lembre-se de quando você tinha 6 ou 7 anos de idade, como você se sentia incrível. Talvez não o tempo todo, mas havia momentos em que você se sentia o máximo. Você brincava, imaginava, criava, se conectava com os outros ou com o mundo ao seu redor, cheio de alegria, encantamento e vida.

Este é o sentimento de completude com o mundo, com você mesmo. Ainda está lá, dentro de você, mas está coberto com os acordos que você aceitou do mundo ao seu redor que disse que você é falho. Esses acordos foram reforçados e firmados como pactos, mas podemos quebrá-los e criar novos acordos.

O novo acordo mais importante é que você é inteiro, você é amor, você tem bom coração.

5 maneiras poderosas de lidar com esse sentimento imperfeito

Então, como começamos esta mudança? um pequeno passo de cada vez, quebramos os velhos acordos e começamos a formar novos.

Seguem algumas formas poderosas de iniciar a mudança – veja que estes passos não seguem uma ordem, mas são formas diferentes que você pode trabalhar o sentimento de que há algo errado com você.

  1. Pratique bondade e cordialidade com você. Esta é uma verdadeira chave e prática de transformação: você pratica olhando a si mesmo com carinho e cordialidade. Assim como você olharia para o ser amado com o mesmo carinho e cordialidade, ou a emoção que sente quando encontra um de seus melhores amigos. Este mesmo sentimento, dirigido para você. A todo momento. Sempre que você se olhar, ou olhar algo que fez, acenda a luz da bondade para você, da cordialidade e gentileza. Livre-se das velhas formas de aspereza, transformando-as em bondade e calor. Como seria fazer isso o tempo todo?
  2. Use a dor como caminho para a transformação. Quando sentimos que há algo errado conosco, pode ser muito dolorido. Mas esta dor pode ser útil – entre em seu corpo e sinta a dor, como uma sensação física. Onde ela se localiza? Investigue essa sensação. A dor, então, está te abrindo para o momento presente, ao invés de ser apanhada nos seus ciclos de pensamentos negativos a seu respeito. Ela está te abrindo para o sentimento de ternura do seu coração. Ela pode ainda te abrir para  a compaixão – se você sente essa dor, pode imaginar quantas pessoas também a sentem? Você é capaz de sentir compaixão por cada pessoa que também sente essa dor? Você é capaz de enviar a elas bondade e amor, de dentro de seu coração?
  3. Veja a sua bondade inata. Em nossa essência, somos bons. Isto é o que eu acredito. Temos bom coração, queremos ser felizes, desejamos ser bons para os outros e temos uma vasta consciência, compaixão e conectividade que está sempre disponível para nós, se pudermos sair de nosso lugar-comum de auto-preocupação. Todos podemos praticar ver essa bondade, senti-la em nosso coração. Sinta a compaixão em seu coração, que está sempre disponível. Sinta as boas intenções, o amor que emana do seu coração. Esta é sua bondade inata e você pode praticar vê-la e senti-la a qualquer momento. Quanto mais praticar, mais fundamental sua confiança nela se tornará.
  4. Pratique autocompaixão regularmente. Você pode praticar isso agora: sinta a dor de algo errado em você, de ser inadequado e indesejado…você consegue desejar alívio dessa dor? Sentindo o estresse e desapontamento em seu corpo, você consegue desejar um sentimento de paz? Consegue desejar ser feliz? Este desejar pode ser sentido no coração, quando você pratica. Perceba esse sentimento e cultive-o regularmente desejando alívio da dor e estresse, desejando sua própria felicidade e paz. Isto vai ajudar a curar a dor de algo estar errado com você.
  5. Use a dúvida para se abrir para a curiosidade. Você pode duvidar se está fazendo algo certo, se é capaz de fazer alguma coisa, sobre como está vivendo e quem você é. Tudo bem! Dúvidas e incertezas a seu respeito não são coisas ruins. Na verdade, se permitirmos, elas podem nos abrir à curiosidade: não sei se estou fazendo algo certo, posso ficar curioso sobre como devo fazer isso? Posso ficar curioso sobre como sinto essa dúvida? Posso ficar curioso sobre essa tarefa ou tópico sem a necessidade de saber exatamente como fazer? Você pode se abrir à curiosidade em qualquer momento – é um espaço de não-saber, um reconhecer que o saber é fixo mas o não-saber é amplo e um espaço para possibilidade, criação, exploração, brincadeiras, encantamento.

Como você pode ver, o ponto de sentir que algo está errado é apenas o ponto inicial. Você pode usá-lo para transformar, para encontrar gentileza e cordialidade, para sentir compaixão, se abrir ao momento, para ver sua bondade inata. Pode usá-lo para se abrir à curiosidade, possibilidade, não-saber, criatividade, exploração, encantamento e amor.

“Eu queria poder te mostrar…a surpreendente luz do seu próprio ser.” 

Hafez

Fonte: https://zenhabits.net — Roseli Giusti Zahm e Marco Iorio Júnior — Tradutora e Editor exclusivos do Trabalhadores da Luz