Nas últimas décadas os pesquisadores tem percebido os benefícios da meditação

Mensagem de 8 de Março de 2021

Há milhares de anos de tradição, os budistas meditam para compreender a si mesmos e sua conexão com todos os seres. Ao fazer isso, eles esperam ser libertados do sofrimento e, por fim, obter a iluminação.

Mas a meditação realmente afeta nossos corpos e nossas mentes? Nas últimas décadas, os pesquisadores têm percebido os benefícios de praticar essa tradição ancestral. Ao estudar versões mais seculares da meditação, eles descobriram que aprender a prestar atenção às nossas experiências atuais e aceitá-las sem julgamento pode realmente nos ajudar a ser mais felizes. Os estudos até agora sugerem que a meditação afeta muitos aspectos de nosso bem-estar psicológico – melhorando nosso humor, aumentando as emoções positivas e diminuindo a ansiedade, reatividade emocional e esgotamento mental no ambiente de trabalho.

Recentemente, pesquisadores têm explorado essa questão – e obtendo alguns resultados surpreendentes. Embora muitas das primeiras pesquisas sobre meditação tenham se baseado em estudos-piloto com medidas tendenciosas ou grupos limitados de participantes, estudos mais recentes têm usado marcadores fisiológicos menos tendenciosos e experimentos controlados aleatoriamente para chegar à resposta. Juntos, os estudos sugerem que a meditação pode impactar nossos corações, cérebros, sistemas imunológicos e muito mais.

Embora nada sugira que a meditação seja um tratamento independente para doenças nem o ingrediente mais importante para uma vida saudável, aqui estão algumas das maneiras como ela parece nos beneficiar fisicamente.

Meditar faz bem para nossos corações

Doenças cardíacas são a principal causa de morte nos Estados Unidos, sendo responsável por cerca de 1 em cada 4 mortes a cada ano. Portanto, tudo o que diminui os riscos ou sintomas de doenças cardíacas teria um impacto significativo na saúde da sociedade. A meditação pode ajudar com isso.

Em um estudo, pessoas com pré-hipertensão foram escolhidas aleatoriamente para incorporar ao seu tratamento medicamentoso um curso de meditação consciente ou um programa que ensinasse relaxamento muscular progressivo. Aqueles que aprenderam a meditação tiveram reduções significativamente maiores em sua pressão arterial sistólica e diastólica do que aqueles que aprenderam o relaxamento muscular progressivo, sugerindo que a meditação pode ajudar as pessoas com risco de doenças cardíacas, reduzindo a pressão arterial.

Em outro estudo, pessoas com doenças cardíacas foram cadastradas aleatoriamente para participar de um programa online para a prática meditação ou em uma lista de espera para o programa enquanto recebiam o tratamento normal para doenças cardíacas. Aqueles que fizeram o programa de meditação mostraram melhorias significativas no teste de caminhada de seis minutos (uma medida da capacidade cardiovascular) e batimentos cardíacos mais lentos do que aqueles no grupo da lista de espera.

Embora uma revisão de estudos controlados aleatoriamente tenha mostrado que a meditação pode ter efeitos mistos sobre os sintomas físicos de doenças cardíacas, uma revisão mais recente publicada pela Associação Americana do Coração (American Heart Association) concluiu que, embora a pesquisa permaneça preliminar, há evidências suficientes para sugerir a meditação como um adjunto tratamento da doença coronariana e sua prevenção.

A meditação também pode ser boa para corações que já são relativamente saudáveis. A pesquisa sugere que a meditação pode aumentar a arritmia sinusal respiratória, as variações naturais da frequência cardíaca que acontecem quando respiramos e que indicam uma melhor saúde cardíaca e uma maior chance de sobreviver a um ataque cardíaco.

Meditação pode diminuir o declínio cognitivo devido ao envelhecimento ou doença de Alzheimer 

As pessoas tendem a perder um pouco de sua flexibilidade cognitiva e memória de curto prazo à medida que envelhecem. Mas a meditação pode ser capaz de retardar o declínio cognitivo, mesmo em pessoas com doença de Alzheimer.

Em um estudo de 2016, um grupo de pessoas com doença de Alzheimer se dividiram em práticas de meditação, terapia de estimulação cognitiva, treinamento de relaxamento ou nenhum tratamento e realizaram testes cognitivos ao longo de dois anos. Enquanto a estimulação cognitiva e o treinamento de relaxamento pareciam ser um tanto benéficos em comparação a nenhum tratamento, o grupo de treinamento de meditação teve melhorias muito mais robustas nas pontuações cognitivas do que qualquer outro grupo.

Respiração consciente: Uma forma de desenvolver resiliência ao estresse, ansiedade e raiva

Por que isso pode ser verdade? Um estudo de 2017 analisou a função cerebral em adultos mais velhos saudáveis ​​e sugere que a meditação pode aumentar a atenção. Neste estudo, pessoas de 55 a 75 anos passaram oito semanas praticando meditação com respiração consciente ou uma atividade de controle. Em seguida, eles fizeram o teste de Stroop – um teste que mede a atenção e o controle emocional – enquanto seus cérebros eram monitorados por eletroencefalografia. Aqueles submetidos ao treinamento de meditação e respiração tiveram uma atenção significativamente melhor no teste de Stroop e mais ativação em uma área do cérebro associada à atenção do que aqueles no grupo de controle ativo.

Embora esta pesquisa seja preliminar, uma revisão sistemática das pesquisas até o momento sugere que a meditação pode mitigar o declínio cognitivo, devido aos seus efeitos na memória, atenção, processamento e funcionamento executivo.

Meditação pode melhorar sua resposta imunológica

Quando encontramos vírus e outros organismos causadores de doenças, nosso corpo envia tropas de células do sistema imunológico que circulam no sangue. Essas células, incluindo proteínas pró e anti-inflamatórias, neutrófilos, células T e imunoglobulinas nos ajudam a combater doenças e infecções de várias maneiras. A meditação, ao que parece, pode afetar essas células que atuam contra doenças.

Em vários estudos, a meditação pareceu aumentar os níveis de células T ou a atividade das células T em pacientes com HIV ou câncer de mama. Isso sugere que a meditação pode desempenhar um papel na luta contra o câncer e outras doenças que recorrem às células imunológicas. Na verdade, em pessoas que sofrem de câncer, a meditação parece melhorar uma variedade de bio-marcadores que podem indicar a progressão da doença.

Em outro estudo, participantes idosos foram aleatoriamente designados para um curso de redução do estresse baseado em meditação com duração de oito semanas ou um programa de exercícios de intensidade moderada. No final, os participantes que praticaram meditação apresentaram níveis mais elevados da proteína interleucina-8 em suas secreções nasais, sugerindo uma função imunológica melhorada.

Outro estudo descobriu aumentos na interleucina-10 em pacientes com colite que fizeram um curso de meditação, em comparação com um programa educacional mente-corpo, especialmente entre pacientes cuja colite havia piorado. Ainda outro estudo descobriu que os pacientes que tiveram maior aumento na atenção após um curso de meditação também mostraram uma cicatrização mais rápida, um processo regulado pelo sistema imunológico.

Estudos descobriram efeitos em marcadores de inflamação também – como a proteína C reativa, que em níveis mais elevados pode prejudicar a saúde física. A pesquisa mostra que as pessoas com artrite reumatóide reduziram os níveis de proteína C reativa depois de fazer um curso de meditação em vez de estar na lista de espera para o curso. No geral, essas descobertas sugerem que a meditação e a atenção plena podem ter poderes de combate a doenças por meio de nossa resposta imunológica.

Meditação pode reduzir o envelhecimento celular

O envelhecimento celular ocorre naturalmente à medida que as células se dividem repetidamente ao longo da vida e também pode ser aumentado por doenças ou estresse. Proteínas chamadas telômeros, que são encontradas no final dos cromossomos e servem para protegê-los do envelhecimento, parecem ser afetadas pela meditação.

Estudos sugerem que meditadores de longa data podem ter comprimentos de telômeros maiores. Em um estudo experimental, os pesquisadores descobriram que os sobreviventes do câncer de mama que passaram por aulas de meditação preservaram mais o comprimento de seus telômeros do que aqueles que estavam em uma lista de espera para as aulas.

Por outro lado, outro estudo com sobreviventes de câncer de mama não encontrou diferenças no comprimento dos telômeros após fazer aulas de meditação; mas encontraram diferenças na atividade dos telômeros, que também está relacionada ao envelhecimento celular. Na verdade, uma revisão de pesquisas de 2018 vincula o treinamento da meditação ao aumento da atividade dos telômeros, sugerindo que isso afeta indiretamente a integridade dos telômeros em nossas células. Talvez seja por isso que os cientistas estão otimistas sobre os efeitos positivos da meditação no envelhecimento.

Meditação pode ajudar a reduzir a dor psicológica

Claro, embora os benefícios fisiológicos da meditação sejam convincentes, não precisamos esquecer que a meditação também afeta nosso bem-estar psicológico, que, por sua vez, afeta a saúde física. Na verdade, é muito provável que essas mudanças tenham efeitos sinérgicos entre si.

Em primeiro lugar, muitas pesquisas sugerem que a meditação pode ajudar pessoas saudáveis ​​a reduzir o estresse. Outros quadros como por exemplo o vício em drogas, surge na verdade por causa da necessidade fisiológica por uma substância que alivia temporariamente o sofrimento psicológico.

A meditação pode ser um complemento útil para o tratamento da dependência, ajudando as pessoas a entender melhor e controlar seus impulsos, potencialmente ajudando-as a evitar recaídas depois de terem sido seguramente desvinculadas das drogas ou do álcool. O mesmo é verdade para pessoas que experienciam transtornos alimentares.

Por mais fascinante que seja, não devemos exagerar os efeitos da meditação na saúde física em detrimento de sua importância para a saúde emocional. Na verdade, pode ser difícil separar os dois, já que o principal impacto da meditação é a redução do estresse, e o estresse psicológico está vinculado à saúde do coração, à resposta imunológica e ao comprimento dos telômeros. Essa ideia é ainda apoiada pelo fato de que outras terapias para redução do estresse também parecem ter impacto sobre a saúde física.

Ainda assim, é encorajador saber que algo que pode ser ensinado e praticado pode ter um impacto em nossa saúde geral – não apenas mental, mas também física – mais de 2.000 anos depois de ter sido desenvolvido. Essa é a razão suficiente para dar uma chance à meditação.

Greater Good Magazine — Fonte: https://eraoflight.com/
Annalisa Ernica e Marco Iorio Júnior — Tradutora e Editor exclusivos do Trabalhadores da Luz