Por que existe tanta repressão em relação à sexualidade?

Trecho do Livro Amar e ser livre

Geralmente, as religiões, que possuem grande influência sobre o imaginário de boa parte da sociedade, não concebem harmonia entre sexo e espiritualidade de acordo com o autor.

O problema é que isso não faz sentido nenhum, porque espiritualidade é sinônimo de integração do ser como um todo, incluindo o sexo.

A sexualidade vai muito além da união dos órgãos sexuais: ela é a movimentação da energia vital no seu corpo. Ela permeia e influencia toda a sua vida, pois é a expressão mais básica da própria vida. Sendo assim, se você quer saber onde está a sua vida, olhe para a sua sexualidade. Se a sua sexualidade está imersa no mundo da fantasia, sua vida está nesse mesmo lugar. Se está reprimida, sua vida está reprimida.

Por todas essas implicações, é esperado que se negarmos o sexo, automaticamente estamos negando uma parte de nós mesmos.

Então, porque existe uma separação tão extrema entre espiritualidade e sexualidade?

Por medo.

Nós temos medo do poder da sexualidade e de perdermos o controle ao entrar em contato com ele. Muito desse medo é explicado historicamente.Durante uma fase da evolução da consciência humana, a sexualidade começou a ser reprimida, porque sua expressão era um canal para manifestação de brutalidade, crueldade e animalidade entre as pessoas.

Valores como respeito e gentileza quase não existiam nesse período.Então, por conta incapacidade do ser humano de lidar com suas sombras, o sexo, enquanto expressão natural da vida foi deturpada por muito tempo.

Como consequência direta disso, a energia vital foi distorcida, gerando um elo entre a dor e o prazer, mais conhecido como sadomasoquismo.

Por que há tanto sofrimento nos relacionamentos

No velho modelo, ao buscar um relacionamento, queremos alguém que possa, na maior parte das vezes, reafirmar o nosso ego. O outro funciona como um espelho que reflete a sua realidade. A todo momento estamos na frente desse espelho perguntando “espelho, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?”

E a resposta que esperamos é: “não, você é a pessoa mais bela desse mundo”.

No entanto, quando o espelho responde: “sim, Branca de neve é mais bela”, deixamos o romantismo de lado e nos transformamos em feras.

Basta receber um “não” que o ódio ressurge das profundezas e queremos crucificar o outro. Nesse modelo, o outro é também um canal de expurgo do nosso ódio. Estamos carregados de ódio e vingança e precisamos de alguém em quem descarregar essa energia. Caso contrário, implodimos.

A outra pessoa é um canal de alívio e de tortura, o que, muitas vezes, é disfarçado de amor. Dizemos “eu te amo”, mas tiramos todo o poder do outro fazendo ele se sentir inseguro. Fazemos com que ele não acredite no seu próprio poder. Somos infelizes e queremos alguém para botar a culpa.

Então, o casamento se transforma em um campo de batalha, através do qual podemos, no máximo, reeditar nossas feridas infantis. É por isso que, no modelo antigo de casamento, não há espaço para uma união autêntica, já que ficamos a maior parte do tempo buscando a alegria passageira que nasce da satisfação do ego.

É impossível sustentar essa mentira por muito tempo. As máscaras começam a cair. As pessoas estão buscando algo, mas não sabem realmente o quê. Na verdade, elas estão procurando uma parte de si mesmas no outro e se iludem com a ideia de que outro é a fonte da felicidade. Essa ideia é grande fonte de sofrimento nas relações.

Para que os relacionamentos realmente servem

Se a vida como um todo é uma escola, os relacionamentos são a fase da universidade da vida de estudo. Através deles, temos a chance de amadurecer os valores humanos que possibilitam a nossa evolução. O outro, independentemente de quem seja, sempre funciona como um espelho que reflete partes de nós mesmos que não estamos enxergando.

Às vezes, o outro reflete aspectos luminosos da nossa personalidade, e às vezes, os aspectos sombrios. Geralmente, evitamos entrar em contato com nossa natureza inferior que ainda não aceitamos. Então, o outro reflete essas partes que estamos, de alguma maneira, negando em nós mesmos. Apesar disso, para que essas partes renegadas possam ser integradas, elas precisam ser identificadas.

Por isso, as relações, representam um aspecto fundamental para a evolução da consciência humana.

Trecho do livro amar e ser livre Prem Baba