Quem é esse tal de ego ?

Fonte: Esses artigos fazem parte do livro do famoso escritor espiritualista Eckhart Tolle em ” O despertar de uma nova consciência “.

A maioria das pessoas está tão identificada com a voz dentro da própria cabeçao fluxo incessante de pensamento involuntário e compulsivo e as emoções que os acompanham – que podemos dizer que esses indivíduos estão possuídos pela mente.

Quem se encontra inconsciente disso acredita que aquele que pensa é quem ele é.

Essa é a mente egóica.

Chamo-a de egóica porque existe uma percepção do eu, do ego, em todos os pensamentos – lembranças, , opiniões, pontos de vista, reações, emoções.
Isso é inconsciência, espiritualmente falando.

O pensamento, o conteúdo da mente, é condicionado pelo passado:

pela formação, pela cultura, pelos antecedentes familiares, etc. O núcleo central de toda a atividade mental consiste em determinados pensamentos, emoções e padrões reativos repetitivos e persistentes com os quais nos identificamos com mais intensidade. Essa entidade é o próprio ego.

O TRABALHO – COM E SEM A INFLUÊNCIA DO EGO

A maioria das pessoas tem momentos livres da interferência do ego. As que são excepcionais no que fazem podem permanecer completamente ou em grande parte livres dele enquanto executam seu trabalho. Talvez elas não saibam disso, mas sua atividade se tornou uma prática espiritual. A maior parte delas se mantém no estado de presença enquanto trabalha e se retrai numa inconsciência relativa na vida privada. Isso significa que seu estado de presença ocorre durante o tempo que é destinado a uma área específica da sua vida.

INTERPRETAÇÃO DE PAPÉIS: AS MUITAS FACES DO EGO

Um ego que quer alguma coisa do outro – e que ego não deseja isso – em geral representa um tipo de papel para satisfazer suas “necessidades”, que podem ser:

ganhos materiais; sensação de poder, de superioridade e de ser especial; além de um sentimento de gratificação, seja física ou psicológica.

Em geral, as pessoas não têm nenhuma consciência dos papéis que representam.

Elas são esses papéis. Alguns deles são sutis, enquanto outros são óbvios, exceto para quem os interpreta. Há aqueles criados com o único objetivo de atrair a atenção de alguém.

O ego prospera quando angaria a atenção dos outros, porque ela é, acima de tudo, uma energia psíquica.

Como não sabe que a origem de toda a energia está dentro da pessoa, ele a procura externamente.

Porém, sua busca não é pela atenção sem forma – a presença -, e sim pela atenção numa forma, como reconhecimento, elogio e admiração. Certas vezes, só o fato de ser notado de alguma maneira já vale como um reconhecimento da sua existência.

Uma pessoa tímida que tem medo da atenção dos outros não está livre do ego – nesse caso, o ego é ambivalente, pois tanto quer quanto teme a atenção externa. O temor é de que a atenção possa tomar a forma de desaprovação ou crítica, isto é, algo que diminua a percepção do eu em vez de aumentá-la. Portanto, o medo que a pessoa tímida tem da atenção é maior do que a necessidade que tem dela. A timidez costuma ser acompanhada de uma auto-imagem predominantemente negativa, a crença de ser inadequado. Qualquer percepção conceitual do eu – ver a si mesmo como isso ou aquiloé o ego, seja ela favorável (eu sou o maior) ou desfavorável (não sou bom).

Por trás de toda auto-imagem positiva há o medo de não ser bom o bastante. Por trás de toda auto-imagem negativa está o desejo de ser o maior ou melhor do que os outros.

Um papel muito comum é o de vítima, e a forma de atenção que o ego busca é a solidariedade, a piedade ou o interesse dos outros pelos “meus” problemas, por “mim e minha história”.

Ver-se como vítima é um componente de muitos padrões egóicos, como queixar-se, sentir-se ofendido, ultrajado, e assim por diante.

No início de muitos relacionamentos chamados românticos, a interpretação de papéis é bastante comum no sentido de atrair e manter a pessoa que é percebida pelo ego como aquela que fará o indivíduo feliz, especial e satisfará todas as suas necessidades. “Eu interpreto quem você quer que eu seja, enquanto você representa quem eu desejo que você seja.” Esse é um acordo implícito e inconsciente. No entanto, a interpretação de papéis é um trabalho árduo que as pessoas não conseguem sustentar por um tempo indefinido, sobretudo depois que começam a viver juntas. O que vemos quando esses papéis se acabam?

PAPÉIS PREESTABELECIDOS

É claro que pessoas diferentes desempenham funções distintas neste mundo. Não poderia ser de outra maneira. No que se refere à capacidade intelectual e física – conhecimento, habilidades, talentos e níveis de energia -, os seres humanos apresentam desigualdades significativas.

O que importa não é a função que cumprimos, mas se nossa identificação com ela chega a tal ponto que nos envolve e se torna um papel que interpretamos.

Sempre que assumimos papéis, estamos inconscientes. No instante em que nos flagramos fazendo isso, esse reconhecimento cria um espaço entre nós e o papel. É o começo da libertação.

Nota explicativa dos Trabalhadores da Luz : Muitas vez a pessoa está desperta ao interpretar o papel, ela sabe muito bem que está se passando por aquilo ou aquilo outro que não é ela, porem não consciente, ou seja, jamais estamos em nossa plena consciência, querendo ser algo que não somos. Assim Toller define ” Sempre que assumimos papéis, estamos inconscientes.”

Por exemplo, quando nos consultamos com médicos que se identificam de forma total com sua profissão, para eles não somos seres humanos, e sim pacientes ou casos clínicos.

As funções exercidas em organizações hierarquizadas, como os meios militares, a Igreja, instituições governamentais e grandes corporações, tendem a fazer com que as pessoas se tornem identidades representadas.

As relações humanas genuínas passam a ser impossíveis quando nos confundimos com um papel.

Há papéis preestabelecidos que podemos chamar de arquétipos sociais. Alguns deles são: o de esposa de classe média (não tão comum quanto costumava ser, mas ainda disseminado); o do machão; a da mulher sedutora; o do artista “não-conformista”; e o de uma pessoa “culta”, aquela que exibe seus conhecimentos de literatura, artes plásticas e música da mesma maneira que outros indivíduos ostentam uma roupa sofisticada ou um automóvel caro.

PAPÉIS TEMPORÁRIOS

Se estivermos despertos o bastante, conscientes o suficiente, para sermos capazes de observar como interagimos com as pessoas, conseguiremos detectar mudanças sutis na nossa fala, na nossa atitude e no nosso comportamento, dependendo do indivíduo com quem estivermos em contato.

 Por exemplo, a forma como conversamos com uma criança talvez não seja igual à maneira como nos comunicamos com um adulto.

A FELICIDADE COMO UM PAPEL VERSUS A FELICIDADE VERDADEIRA

– Como vai você? – Ótimo. Não poderia estar melhor.

Verdadeiro ou falso?

Em muitos casos, a felicidade é um papel que as pessoas representam. Um exterior sorridente pode ocultar um grande sofrimento. Depressão, esgotamento e reações exageradas são comuns quando a infelicidade é encoberta por sorrisos, sempre que há negação, algumas vezes até mesmo para si próprio, de que existe muita infelicidade.

A causa primária da infelicidade nunca é a situação, mas nossos pensamentos sobre ela.

Portanto, tome consciência dos pensamentos que estão lhe ocorrendo.

 Por exemplo: “Estou arruinado” é uma história. Ela limita a pessoa e a impede de tomar uma providência eficaz.

“Tenho 50 centavos na minha conta” é um fato. Encarar os fatos é sempre fortalecedor. Tome consciência de que, na maioria das vezes, o que você pensa é o que cria suas emoçõesobserve a ligação entre eles.

Em vez de ser seus pensamentos e suas emoções, seja a consciência por trás deles.

Não busque a felicidade. Se fizer isso, não a encontrará porque buscar é a antítese dela. A felicidade é sempre evasiva, contudo você pode se libertar da infelicidade agora, encarando-a em vez de criar histórias sobre ela.

ABANDONANDO AS DEFINIÇÕES PESSOAIS

A medida que as culturas tribais evoluíram para as antigas civilizações, determinadas funções começaram a ser atribuídas às pessoas: governador, sacerdote, guerreiro, agricultor, mercador, artesão, operário, etc.

Desenvolveu- se um sistema de classes. A função de cada um, que, na maioria das vezes, já estava decidida desde o nascimento, estabelecia quem a pessoa era aos olhos dos outros, assim como aos seus próprios olhos.

A função tornou-se um papel, mas não era reconhecida como tal: ela era o próprio indivíduo ou o que este pensava que era.

Naqueles tempos, apenas raros seres, como Buda e Jesus, viam a completa irrelevância das castas e das classes sociais e consideravam-nas identificações com a forma.

Eles foram capazes de entender também que essa identificação com o que é temporal e condicionado obscurece a luz do que é eterno e não condicionado e que brilha em cada ser humano.

No mundo contemporâneo, as estruturas sociais são menos rígidas, menos definidas, do que costumavam ser. Embora as pessoas, em sua maioria, ainda sejam condicionadas pelo ambiente, elas não são mais automaticamente investidas de uma função e de uma identidade. Na verdade, hoje em dia, é crescente o número de indivíduos que se sentem confusos quanto ao lugar ao qual se encaixam, ao seu propósito e até mesmo a quem eles são.

Costumo parabenizar as pessoas quando elas me dizem: “Não sei mais quem eu sou.” Então elas ficam perplexas e me perguntam se é bom estar confuso. Eu lhes peço que reflitam sobre isso.

O que significa estar confuso?

“Não sei” não é sinônimo de confusão.

Confusão é: “Eu não sei, mas deveria saber” ou “Não sei, porém preciso saber”.

É possível abandonarmos a crença de que devemos ou precisamos saber quem somos?

Quando colocamos de lado a convicção de que necessitamos saber quem somos, o que acontece com a confusão?

De repente ela acaba.

No momento em que aceitamos de fato de que não temos esse conhecimento, entramos num estado de paz e clareza que está mais próximo de quem somos verdadeiramente do que o pensamento jamais poderá estar. Usar o pensamento para nos definir é algo que nos limita.

O EGO PATOLÓGICO

Considerando a palavra “patológico” no seu sentido mais amplo, podemos dizer que o ego em si é patológico, não importa que forma assuma. Quando observamos a raiz desse termo no grego antigo, vemos quanto é apropriado aplicá-lo ao ego. Embora costume ser usado para explicar uma condição de doença, ele deriva de pathos, que significa sofrimento.

Uma pessoa dominada pelo ego, contudo, não reconhece o sofrimento como sofrimento – ela o considera a única resposta adequada em qualquer tipo de situação. O ego, na sua cegueira, é incapaz de ver a dor que inflige a si mesmo e aos outros.

A infelicidade é uma doença “mental-emocional” que atingiu proporções epidêmicas.

Estados negativos, como raiva, ansiedade, rancor, ressentimento, descontentamento, inveja e ciúme, entre outros, não costumam ser vistos como negativos, e sim como condições totalmente justificadas. Além disso, há compreensão errônea de que eles não são criados pela própria pessoa, mas por alguém ou por um fator externo. “Eu o considero responsável pela minha dor.” Isso é o que o ego deixa subentendido.

O ego não consegue distinguir entre uma situação e sua interpretação de uma reação a essa situação. Podemos dizer “Que dia horrível!” sem atentarmos para o fato de que o frio, o vento e a chuva ou qualquer elemento ao qual estejamos reagindo não são horríveis. Eles são como são. O que é horrível é nossa reação, a resistência subjetiva a eles e a emoção que é criada por essa resistência.

 Shakespeare: “Nada existe de bom nem de mau, o pensamento é o que o torna assim.”

Mais do que isso, o ego sempre interpreta mal o sofrimento como um prazer porque, até determinado ponto, ele se fortalece por meio desse estado negativo.

Por exemplo, a raiva e o ressentimento exacerbam o ego, aumentando a sensação de separação, enfatizando a diferença em relação aos outros e criando a postura “estou coberto de razão”, que mais parece uma fortaleza inexpugnável.

Se fôssemos capazes de observar as mudanças psicológicas que acontecem dentro do nosso corpo quando somos dominados por essas disposições negativas, caso pudéssemos ver de que modo elas prejudicam o funcionamento do coração e dos sistemas digestivo e imunológico, além de muitas outras funções corporais, ficaria óbvio que esses estados são de fato patológicos, isto é, são formas de sofrimento, e não de prazer.

Se em meio ao negativismo conseguirmos compreender a idéia de que naquele instante estamos causando sofrimento a nós mesmos, isso será suficiente para nos colocar acima das limitações das reações e dos estados egóicos condicionados.

  • O negativismo é destituído de inteligência. Ele é sempre uma criação do ego, que pode ser esperto, mas não é inteligente.
  • A esperteza persegue objetivos próprios e pequenos. A inteligência vê o conjunto maior em que todas as coisas estão interligadas.
  • A esperteza é motivada pelo interesse pessoal e é extremamente imediatista.
  • Tudo o que é alcançado por meio da esperteza tem vida curta e sempre resulta numa derrota pessoal.
  • A esperteza divide, enquanto a inteligência inclui.

Agora podemos entender a sabedoria profunda das palavras de Jesus na cruz:

“Perdoai-os, pois eles não sabem o que fazem.”

Para darmos fim ao sofrimento que vem afligindo a condição humana há milhares de anos, precisamos começar por nós mesmos e assumir a responsabilidade por nosso estado interior em qualquer momento. Isso quer dizer agora.

Portanto, pergunte-se: “Estou dando mostras de negativismo neste exato instante?”

Depois fique alerta, preste atenção nos seus pensamentos e nas suas emoções.

Até o próximo e primeiro artigo da série de estudo – O corpo de dor !