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Mensagem de 12 de Setembro de 2022
O sistema moderno de chakras tem realmente raízes antigas?
Nos últimos cem anos, o conceito de chakras, ou centros de energia sutis no corpo, tomou a imaginação do Ocidente mais que virtualmente qualquer outro ensinamento da tradição da yoga. Ainda assim, como a maioria dos outros conceitos derivados das fontes sânscritas, o Ocidente (com exceção de um punhado de estudiosos), falhou quase totalmente em entender o que os chakras significavam em seu contexto original e como se deve praticá-los. Este artigo procura retificar esta situação até certo ponto.
Aqui estão as seis coisas mais importantes que você nunca soube a respeito dos chakras:
1. Não há apenas um Sistema de chakras na tradição original, há vários
Tantos! A teoria do corpo sutil e seus centros de energia chamados chakras (ou padmas, ādhāras, lakṣyas, etc) vêm da tradição da Yoga Tântrica, que floresceu de 600 a 1300 e ainda está viva hoje. Na Yoga Tântrica madura (após o ano 900), cada um dos muitos ramos da tradição articulou um sistema de chakras diferente e alguns ramos articularam mais do que um. Cinco, seis, sete, nove, dez, quinze, vinte e um, vinte e oito sistemas e mais são ensinados, dependendo de qual texto você estiver estudando. O sistema de chakras de sete (ou tecnicamente, 6 + 1) que os yogis conhecem é apenas um de muitos e tornou-se dominante por volta do século 16.
Agora, eu sei o que você está pensando – ‘Mas qual sistema é o certo?’ Quantos chakras existem realmente? E isto nos traz ao nosso primeiro grande equívoco. Os chakras não são como órgãos no corpo físico; eles não são coisas fixas que podemos estudar assim como os médicos estudam os gânglios neurais. O corpo energético é uma realidade extraordinariamente fluida, como poderíamos esperar de qualquer coisa não física e super sensual. O corpo energético pode apresentar, experiencialmente falando, com quaisquer números de centros de energia, dependendo da pessoa e da prática de yoga que ela estiver realizando.
Tendo dito isto, há alguns poucos centros que são encontrados em todos os sistemas – especificamente, chakras no baixo ventre, coração e no topo da cabeça, pois estes são três lugares no corpo onde humanos em todo o mundo experienciam fenômenos tanto emocionais quanto espirituais. Mas além destes três, há uma enorme variedade nos sistemas de chakras encontrados na literatura original. Um não é mais ‘certo’ do que outro, exceto com relação a uma prática específica. Por exemplo, se você está fazendo uma prática de cinco elementos, você usa um sistema de cinco chakras. Se estiver internalizando a energia de seis deidades diferentes, você usa um sistema de seis chakras. Óbvio, certo? Mas este pedaço crucial de informação ainda não alcançou a yoga Ocidental.
Apenas começamos a descida nesta toca do coelho, Alice. Quer aprender mais?
2. Os sistemas de chakras são prescritivos, não descritivos
Este pode ser o ponto mais importante. Fontes inglesas tendem a apresentar o sistema de chakras como um fato existencial, usando linguagem descritiva (tal como ‘o chakra mūlādhāra está na base da coluna vertebral, possui quatro pétalas’ etc). Mas na maioria das fontes Sânscritas originais, não estamos sendo ensinados a respeito de como as coisas são, estamos recebendo uma prática de yoga específica; devemos visualizar um objeto sutil feito de luz colorida, no formato de um lótus ou uma roda girando, num ponto específico do corpo e então ativar sílabas de mantras nele, para um propósito específico. Quando você compreende isto, o ponto # 1 acima faz mais sentido. Os textos são prescritivos – eles dizem o que você deve fazer para alcançar um objetivo específico por meios místicos. Quando se lê no Sânscrito literal, em sua forma elíptica, ‘Lótus de quatro pétalas na base do corpo’, devemos entender ‘O yogi deve visualizar um lótus de quatro pétalas…’
3. Os estados psicológicos associados com os chakras são completamente modernos e ocidentais.
Em inúmeros websites e livros, lemos que o chakra mūlādhāra é associado com sobrevivência e segurança, com força de vontade e autoestima etc. O yogi estudado deveria saber que todas as associações de chakras com estados psicológicos é uma inovação Ocidental moderna que começou com Jung. Talvez tais associações representem realidades experienciais para algumas pessoas (embora geralmente sem o efeito priming). Certamente não as encontramos nas fontes Sânscritas. Há apenas uma exceção da qual estou ciente e esta é o sistema de 10 chakras para músicos yogis, sobre o qual eu fiz um blog. Mas neste sistema do século 13, não encontramos cada chakra associado com uma emoção específica ou estado psicológico; ao invés, cada petada de cada chakra-lótus está associada com uma emoção ou estado distinto, e não parece haver padrão pelo qual poderíamos criar um rótulo para o chakra como um todo.
Mas isto não é tudo. Quase todas as muitas associações encontradas em livros populares como As Rodas da Vida, de Anodea Judith, não têm bases nas fontes Indianas. Cada chakra, Judith nos diz, está associado com uma determinada glândula corporal, certas avarias corporais, certos alimentos, metal, mineral, erva, planeta, um caminho de yoga, uma carta de Tarot, uma sephira do misticismo judaico (!) e um arcanjo da Cristandade (!!). Nenhuma dessas associações é encontrada nas fontes originais. Judith ou seus professores as criaram baseadas em semelhanças percebidas. Isto também vale para os óleos essenciais e cristais que outros livros e websites dizem corresponder a cada chakra. (Devo observar que Judith apresenta informação de uma fonte Sânscrita original, a saber, o chakra nirūpaṇa sob o rótulo ‘Símbolos de Lótus’ para cada chakra. Também devo observar que ela é uma pessoal realmente amável, cujo trabalho tem beneficiado muitas pessoas. Isto não é pessoal).
Isto não quer dizer que colocar um determinado tipo de cristal no seu abdômen quando está tendo problemas de autoestima e imaginá-lo purificando seu chakra maṇipūra não vá ajudar você a se sentir melhor. Talvez ajude, dependendo da pessoa. Embora esta prática não seja certamente tradicional e não tenha sido testada por gerações (que é de fato todo o ponto da tradição), Deus sabe que há mais coisas entre o céu e a Terra do que é sonhado no meu cérebro racional.
Mas, na minha opinião, as pessoas deveriam saber quando o pedigree de uma prática tem algumas décadas, não séculos. Se uma prática tem valor, então você não precisa falsificar sua proveniência, certo?
4. O Sistema de sete chakras popular atualmente não deriva de uma escritura, mas de um tratado escrito em 1577
O Sistema de chakras que os yogis Ocidentais seguem é o encontrado num texto Sânscrito escrito por um homem chamado Pūrṇānanda Yati. Ele completou este texto (o chakra nirūpaṇa, ou ‘Explicação dos seis chakras’, na verdade capítulo seis de um trabalho maior) no ano de 1577.
Numa versão anterior deste artigo, eu chamei o sistema de 7 chakras ‘atrasado e de alguma forma atípico’. Mas depois de alguns dias, eu percebi que estava errado – uma versão mais simples do mesmo sistema de 7 chakras é encontrada num texto pós escritura do século 13, chamado Śāradā-tilaka (‘O Ornamento de Sarasvatī), embora este texto reconheça claramente que há múltiplos sistemas de chakras (tal como os sistemas de 12 ou 16 chakras).
Entretanto, a maioria dos yogis (tanto Indianos quanto Ocidentais), conhecem o sistema de 7 chakras apenas através do trabalho do século 16 de Pūrṇānanda, ou melhor, através de uma tradução relativamente incoerente e confusa, feita por John Woodroffe em 1918. Ainda assim, o texto é importante para muitas linhagens na Índia hoje. Teria ele sido sem a tradução de Woodroffe? Eu duvido, pois há muito poucas pessoas na Índia moderna que leem Sânscrito fluentemente.
Mais importante, entretanto, é o fato de que a tradição em si considera os textos das escrituras como infalíveis e autores humanos são falíveis, então é irônico que os yogis modernos funcionalmente tratem o sistema de 7 chakras de Pūrṇānanda como divinamente revelado. Pessoalmente, não tenho certeza de que qualquer coisa escrita em palavras pode ser considerada infalível, mas se você quer reverenciar um ensinamento yogi como divinamente revelado, faz sentido fazê-lo com um texto que de fato alegue tal coisa – como as escrituras originais Tântricas (compostas antes de 1300).
É claro, Pūrṇānanda baseia seu trabalho em fontes escriturais anteriores – mas isto não significa que ele as entendeu perfeitamente. Em resumo, então, o sistema de sete chakras que você conhece é baseado numa tradução falha de uma fonte não escritural. Isto de forma alguma o invalida, apenas problematiza sua hegemonia.
Note que o Budismo Tântrico (por exemplo, do Tibet), geralmente preserva velhas formas e de fato o sistema de cinco chakras é dominante naquela tradição (bem como o sistema de três bindu).
5. O propósito de um Sistema de chakras é funcionar como um modelo para nyāsa
No que diz respeito aos autores originais, o propósito principal de qualquer sistema de chakras era funcionar como um modelo para nyāsa, que significa a instalação de mantras e energias de deidades em pontos específicos do corpo sutil. Então, embora milhões de pessoas sejam fascinadas com os chakras hoje, quase nenhuma delas está usando-os para o propósito a que se destinam. Está OK. Novamente, eu não estou aqui para dizer que alguém está errado, apenas para educar as pessoas que estão interessadas.
As características mais incríveis dos sistemas de chakras nas fontes originais são estas duas: 1) que os sons místicos do alfabeto Sânscrito são distribuídos pelas ‘pétalas’ de todos os chakras no sistema e 2) que cada chakra está associado com uma deidade Hindu específica. Isto porque o Sistema de chakras é, como eu disse, primariamente um modelo para nyāsa. No nyāsa, você visualiza uma sílaba mântrica específica numa localização específica num chakra específico em seu corpo energético, enquanto entoa seu som silenciosamente.
Claramente, esta prática está inserida num contexto culturalmente específico no qual os sons da linguagem Sânscrita são vistos como vibrações unicamente poderosas que podem formar uma parte efetiva de uma prática mística que traz liberação espiritual e benefícios materiais através de meios mágicos. Invocar a imagem e energia de uma deidade específica num chakra específico também e culturalmente específico, embora se os yogis Ocidentais viessem a entender o que estas deidades representam, a prática poderia potencialmente ser significativa para eles também, embora provavelmente nunca tão significativa como para alguém que cresceu com estas deidades como ícones paradigmáticos exaltados em suas mentes subconscientes.
6. Os mantras-semente que você pensa que vão com os chakras, na verdade vão com os elementos que estão instalados nestes chakras
Isto é mais simples do que parece. Você foi informado que o mantra-semente (bīja, ou mantra de uma sílaba) do chakra mūlādhāra é LAM. Não é. Não na fonte Sânscrita, nem mesmo no relato um pouco distorcido de Pūrṇānanda. E o mantra do chakra svādhiṣṭhāna não é VAM. Espere, o que? É simples: LAM é o mantra-semente do elemento Terra, que na maioria das práticas de visualização está instalado no mūlādhāra. VAM é o mantra-semente do elemento água, que está instalado no svādhiṣṭhāna (pelo menos, no sistema de sete chakras que você conhece). E assim vai: RAM é a sílaba para Fogo, YAM, para Vento e HAM, para Espaço.
Então, o ponto principal é que os mantras fundamentais associados com os primeiros cinco chakras em cada website que você acha no Google, de fato não pertencem a estes chakras, mas ao invés, aos cinco elementos instalados neles. Isto é importante saber se você quiser instalar um desses elementos num local diferente. ‘Eu posso fazer isso?’ Totalmente. O que você acha que é o efeito em seus relacionamentos de sempre instalar o elemento Vento no centro do coração? (Lembre-se, YAM é o mantra para Ar/Vento, não do chakra anāhata.)
Você já notou que os modernos yogis Americanos têm relacionamentos realmente instáveis? Poderia isto estar relacionado com invocar repetidamene o Vento no nível do coração? Não….(posso ser engraçado agora porque somente uma pequena porcentagem de meus leitores chegou até aqui.) Então, talvez você queira instalar um pouco de Terra no coração, pois aterrar é bom para seu coração. Neste caso, é bom saber que LAM é o mantra do elemento Terra, não do chakra mūlādhāra. (Note que, tradicionalmente, embora os elementos possam ser instalados em diferentes partes no corpo, eles não podem mudar sua sequência estabelecida. Isto é, eles podem subir ou descer dependendo da prática, mas a Terra é sempre mais baixa, depois a Água etc.)
Além disso, algumas das figuras geométricas associadas com os chakras hoje também pertencem apropriadamente aos Elementos. A Terra é tradicionalmente representada por um quadrado (amarelo), Água por um crescente (prateado), Fogo por um triângulo (vermelho) apontado para baixo, Vento por um hexagrama ou estrela de seis pontas e Espaço por um círculo. Então, quando você vê estas figuras inscritas em ilustrações dos chakras, saiba que elas de fato são representações destes Elementos, não de uma geometria inerente ao chakra em si.
Estar aberto para a real verdade a respeito dos chakras
Este ainda é um território sobretudo desconhecido. Então, com relação aos chakras, não alegue que você sabe. Diga aos seus estudantes de yoga que cada livro sobre os chakras apresenta apenas um modelo possível. Nada escrito em inglês é realmente competente para os praticantes de yoga.
Então porque não tratar mais gentilmente as crenças que você adquiriu sobre yoga, embora você ainda esteja aprendendo? Vamos admitir que ainda não entendemos realmente estas práticas antigas de yoga; e ao invés de buscar ser uma autoridade sobre alguma versão super simplificada delas, você pode se convidar e aos seus alunos para olhar mais clara, honesta e cuidadosamente e mais sem julgamentos as suas próprias experiências.
Afinal, tudo que cada mestre de yoga já experienciou está em você também.
Hareesh — Fonte: http://www.tantrikstudies.org/
Roseli Giusti Zahm e Marco Iorio Júnior – Tradutora e Editor exclusivos do Trabalhadores da Luz